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Ao cimo das escadas, o andor era solenemente enfeitado com a gordura condensada da fritura das rabanadas. O odor ameno a canela e açúcar amarelo, depois de embeber o cacete fatiado, adornava o resto do tecto que, por entre as marcas da humidade persistente, espreitava feliz para a estrela encimada na crista do petiz pinheiro de Natal. Resinoso ainda, adormecido entre os musgos arrancados com as mãos em fartos tufos às húmidas costas da pedreira, sacudia orgulhoso as luzes intermitentes que proje...
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On naperons feitos de jornais e velhas listas telefónicas, recortados com o decoro próprio de quem suspira a vida e a mesma se verga sobre si, em deferência, ornamentam as prateleiras vazias de uma cozinha de chão de terra batida, negra. O tempo pára de cada vez que consulto a memória. Na Aldeia de Cima não há maior consolo do que uma lareira a crepitar na tarde de Outubro, lajes espessas, negras e sorridentes, panelas negras em tripé oxidado, traves cobertas de fuligem e as minhas calça...
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A rua exibe o mesmo tom juvenil de sempre, na ausente sombra dos eucaliptos, decepados num coto estirado em súplica ao céu. As árvores choram, não pela dor, mas na nossa manifesta falta de amor. Sob um empedrado caminho que traz comodidade, sem conforto, jazem estirpes que gretaram paredes e muros, na profunda harmonia entre a natureza e o impropério, senhoras do seu império.
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A grande ilusão da separatividade que tanto coloca - ainda nesses tempos - os seres humanos separados dos próprios seres humanos. Nem todo o lugar ou grupo são para todos. E está tudo bem. Você não tem que calçar o número 35 se o que te serve é o 38. Simples assim. Cada ser humano é um universo dentro do grande e vasto Universo que nos conecta desde planos muito mais sutis.
Desfrute da sua capacidade de Ser quem és, como és, com aqueles que te são mais afins. Isso não significa que os que n...
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O céu ameaça, intimidado talvez pelas previsões dos entendidos com os seus smartphones, uns trovões sérios, relâmpagos como castigos divinatórios e chuvas que virão lavar as ruas, excepto se vierem na hora de procissão e, aí, vêm é estragar a festa.
Os caminhos que percorro agora, de carro, contrastam com a minha grata e infantil recordação de ir a pé para a catequese aos sábados, no início da tarde. Os paralelos sucumbiram ao peso das preocupações adultas de quem por lá passa, sendo agora cr...
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Temos um virtual painel no peito. Os botões azuis representam nossas melhores qualidades, como a gentileza, a empatia, o equilíbrio, a resiliência, … Os botões vermelhos simbolizam as dificuldades, como a impaciência, os apegos, o egoísmo, … Todos nós, de forma consciente ou inconsciente, travamos uma batalha diária, que é vencer a nós mesmos, transcender as mazelas da personalidade.
Durante a vida, nos relacionamos com muitas pessoas, e algumas delas apertam esses botões. Com aquelas que...
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Havias de ter ido, foi a frase que ouvi quando, ao sabor ameno do calor que a parede da cozinha transpirava, chegou à minha beira no cálido final da tarde de sábado. Os hinos monótonos a Nossa Senhora de Fátima ecoam pelo pequeno vale, agora despido, e aliam-se à fé trémula de quem se aflige no mundo, sem se deter muito nele. A banda sonora monocórdica, à guisa de veleidades supérfluas, dá o mote para a explicação da minha ascendência genética.
O caminho, para lados da margem esquerda do Dou...
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“Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo”.
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Alheado à indiferença de não ser apreciado, o diospireiro adormece na tarde de sábado ao som do vento a sacudir os ramos dos limoeiros, que batem à janela da garagem iluminada pelos copos transparentes onde sorriem chamas que apenas fornecem um ambiente bruxuleante às horas esparramadas no sofá, feito com paletes de madeira fumigada.
A música ecoa nas paredes aquecidas pelo aquecedor a gás, a coluna Bluetooth amorna o ambiente em tonalidades condensadas que lacrimejam os vidros. O silêncio, i...
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Há pelo menos dois anos vivendo num centro planetário bastante particular fui me dando conta com mais profundidade não somente dos processos de cada ser humano que transita pelo meu caminho, mas também dos seres de outros reinos como os animais e as plantas. Creio que falar sobre os animais valerá um texto exclusivamente voltado para eles. Por agora tentarei traduzir um pouco minhas percepções e sentimentos sobre o Reino Vegetal.
O Centro Planetário conhecido como ERKS, localizado na região d...
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Bastaria o silêncio e nada mais para escutar o sussurro da outra dimensão do nosso ser indicando o caminho a seguir. Esse som, essa voz interior carregada de beleza e harmonia a tudo transforma, e rompe os véus da ilusão de que precisamos de algo além de nós mesmos para ser feliz e alcançar a paz.
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