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by on 12 August, 2024
Movendo-se na modorrenta passada do mais pequenito anjo, o longo préstito atrasava-se ao toque alternado de caixa da banda de música, cujos integrantes saíam protegidos na sombra das tiliáceas. Uma guarda de honra de arcanjos e santidades pendurava-se nos candeeiros da rua, devidamente suportados nos patrocinadores da festividade, enquanto as instalações sonoras anunciavam uma panóplia de empresas dos mais variados serviços e produtos.  O atraso obriga-me a mirar o chão, exploro as sombras qu...
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by on 5 July, 2024
Saímos de casa no frescor da fina matinal chuva transpirada pelo Verão. A ansiedade barbeou a face de véspera e há uma espécie de sensação de regresso ao local onde estarei quando chegar, apesar de já lá estar. Com a viagem realizada em caminhos alternativos, a atenção vira-se para novos deltas, plantações esverdeadas do que não conhecemos, toponímias distintas que nos fazem gargalhar, na simplicidade jocosa da linguística e do equilíbrio entre o calão e a imaginação. O local de encontro, par...
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by on 12 Maio, 2024
Com o amanhecer de Domingo, o Maio anuncia-se nos meus joelhos doridos da neblina. O Café vai tendo as mesmas caras conhecidas, o balcão aquece-se nos braços de fora das mangas curtas. A máquina do tabaco informa o preço do vício a quem conta os trocos para saciar os que fumam por eles, a cada um seu mal, mais uns passos arrastados na lama do umbral. ...
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by on 22 April, 2024
Estaciono sob os chilreios floreados de plantas que desconheço, atrás do gradeamento que sorri metalicamente com as brincadeiras dos miúdos na hora do intervalo entre aulas. Está o planeta, pelo menos neste hemisfério, na Primavera, assim como a canalhada, floreando, sem grandes preocupações com os Outonos futuros que lhe trarão tonalidades acinzentadas. Aguardo à entrada que me atendam. A porta aberta ao público obriga-se a controlar fluxo de entradas e saídas, o progresso chega a todo o lad...
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by on 22 April, 2024
À saída da VCI e longe dos holofotes habituados a iluminar noites de futebol azul e branco, as rotundas rotundadas convidam a enganar-me, falheiro que sou de trajectos urbanos, agora que me quero cada vez mais rural, plantado talvez àquilo que de mim me espero, um punhado de sementes de nada e um plantio fútil daninhando os jardins efémeros que são os milhões de anos à sombra de um Sol cansado, ainda que adolescente. Estaciono ao largo do Cerco, por entre pequenos paralelos perdidos por qualq...
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by on 22 April, 2024
As estradas, quando não nos levam aos locais que conhecemos, serpenteiam por entre localidades onde somos estrangeiros. O desconhecimento acaba por pincelar as serranias de verde onde o cinzento urbano já nada nos consegue colorir. Enquanto saboreio a viagem, curta, por não saber onde estacionar com o cuidado e zelo em não estorvar ninguém, um pouco como aprendi a fazer na vida, galgo a imaginação debaixo dos toldes e oleados da feira, assente no revitalizado mercado do Couto. Já por lá não anda...
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by on 6 February, 2024
No olhar embaçado do meu pai encontro o reflexo das sanzalas, picadas, regatos coloridos de peixes futuros e uma terra que paria abundância com a facilidade dos sonhos mancebos em terras distantes, separadas por um oceano nauseado em porões defecados por animais e o medo do desconhecido pelos umbrais. ...
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by on 19 December, 2023
Ao cimo das escadas, o andor era solenemente enfeitado com a gordura condensada da fritura das rabanadas. O odor ameno a canela e açúcar amarelo, depois de embeber o cacete fatiado, adornava o resto do tecto que, por entre as marcas da humidade persistente, espreitava feliz para a estrela encimada na crista do petiz pinheiro de Natal. Resinoso ainda, adormecido entre os musgos arrancados com as mãos em fartos tufos às húmidas costas da pedreira, sacudia orgulhoso as luzes intermitentes que proje...
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by on 26 September, 2023
On naperons feitos de jornais e velhas listas telefónicas, recortados com o decoro próprio de quem suspira a vida e a mesma se verga sobre si, em deferência, ornamentam as prateleiras vazias de uma cozinha de chão de terra batida, negra. O tempo pára de cada vez que consulto a memória. Na Aldeia de Cima não há maior consolo do que uma lareira a crepitar na tarde de Outubro, lajes espessas, negras e sorridentes, panelas negras em tripé oxidado, traves cobertas de fuligem e as minhas calça...
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by on 26 September, 2023
O Outono chega orientado pelo rumo da nortada. As nuvens cinzentas cinzelam o verde escuro, ainda imaculado, pintado nas encostas das serras ao fundo, placidamente a observarem o azul do mar. ...
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by on 26 September, 2023
A rua exibe o mesmo tom juvenil de sempre, na ausente sombra dos eucaliptos, decepados num coto estirado em súplica ao céu. As árvores choram, não pela dor, mas na nossa manifesta falta de amor. Sob um empedrado caminho que traz comodidade, sem conforto, jazem estirpes que gretaram paredes e muros, na profunda harmonia entre a natureza e o impropério, senhoras do seu império. ...
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by on 24 June, 2023
O céu ameaça, intimidado talvez pelas previsões dos entendidos com os seus smartphones, uns trovões sérios, relâmpagos como castigos divinatórios e chuvas que virão lavar as ruas, excepto se vierem na hora de procissão e, aí, vêm é estragar a festa. Os caminhos que percorro agora, de carro, contrastam com a minha grata e infantil recordação de ir a pé para a catequese aos sábados, no início da tarde. Os paralelos sucumbiram ao peso das preocupações adultas de quem por lá passa, sendo agora cr...
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